14.11.17

Diário de Bordos - Lisboa, 14-11-2017

Hoje a greve dos médicos não me correu tão bem como da outra vez: levantei-me às sete da manhã para chegar ao hospital e ouvir dizer que "a técnica está de greve". Troquei uma chalaça ou duas com a senhora do guichê, que apesar da hora matinal já devia ter lidado com alguns mais zangados e me agradeceu dizendo "assim é que se deve levar a coisa".

Se ela soubesse a vontade que tenho de mandar o corpo às urtigas e dizer-lhe "amanha-te com o que a natureza te deu"... Mas depois lembro-me de que ainda tenho dois ou três disparates a escrever e (espero) um corpo para amar e meia dúzia de garrafas de vinho a beber e uma ou duas ilhas a visitar e pronto. A senhora vai avisar-me da nova data.

Não vai chegar a tempo para a médica que pediu o exame, mas esta que se amanhe com o que há, ela também.

Estou mais farto de médicos, hospitais, comprimidos e exames do que de mim. É obra!

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Ontem falava com F., o dono do hostel e imaginava a sorte que ele talvez tenha. Não fala português e pode não saber quem é o Costa, não fazer ideia de onde fica o Panteão, ignorar que pode morrer se for a um hospital de Lisboa. Ou seja: ter de Portugal o melhor, este ar frio e transparente, cheio de sol dos últimos dias, a simpatia das pessoas, a beleza da cidade.

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Parece que o Marcelo anda a distribuir afectos pelos sem-abrigo. Acho bem: há que começar a tratar já da reeleição e dar palmadinhas nas costas aos senhores e senhoras das ruas é um método garantido.

Se o próximo presidente vier do circo pelo menos já estaremos habituados.

Entretanto cinco meses depois Pedrógão Grande está como ficou depois do fogo e quanto a isso népias. Nem uma palavra. Quem lhe esfregasse uma selfie nas ventas devia ser condecorado.

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Esta indiferença dos portugueses pelo tempo seria muito bonita e exótica se fosse noutro país. No nosso é dolorosa.

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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.