30.8.17

Silêncio

A morte de alguém que nos é próximo tem esta característica estúpida que é meter-se nas frinchas todas, não há fenda que lhe escape, uma falha, um interstício. Um gajo está constipado, não tem dinheiro porque alguém em quem confiava lhe roeu a corda, tem mil coisas em que pensar e pelo menos metade dessas para fazer e aquela estúpida morte não pára de lhe saltar à frente e de lhe mostrar quão importantes são a constipação, o dinheiro, o futuro imediato e o outro, mais longínquo: nada. Zero.

Morreu uma pessoa que não devia morrer porque era o lado bom da vida, o lado sorridente, leve, optimista, bonito da vida e um gajo pergunta-se porquê ela e não duzentas outras cuja vida faz muito menos sentido e diz porra! porra! porra!, assim mesmo três vezes porque não há muito mais que possa dizer, a impotência dispensa palavras, o nada cala tudo, cala o tempo, cala a vida, cala a esperança, cala a raiva.

E não deixa nada se não um buraco de incompreensão, um buraco de silêncio. 

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