14.3.17

Notas dispersas - PSEC (e simplificação)

O PSEC - Processo de Sedentarização em Curso - não é fácil. É difícil, complexo, complicado, cheio de altos e baixos e curvas e contracurvas, estreitos apertados e gargantas profundas.

Uma cabeça de pescada na Merendinha do Arco alisa e descomplexifica o processo. Por pouco tempo, é certo. A conta chega e um indivíduo em processo de sedentarização pergunta-se "Porra! Isto é tão barato e ainda assim é caro?"

Ou seja: sedentarizar é trocar uma vida em que se finge que se é rico às vezes e pobre quase sempre por outra em que se é sempre pobre, sem fingir.

Sem fingir.

ADENDA - Comer uma cabeça de pescada (ou de outro peixe qualquer) funciona como descomplicador de vidas por transferência de complexidades. Requer atenção em todas as fases do processo, desde a recolha do que se vai pôr no garfo - acto que para ser bem sucedido deve ser minucioso e lento, executado com a atenção e a expectativa de um garimpeiro - até à degustação. A carne da cabeça do peixe é de muito longe a melhor e é firme. Separa-se em pequenas e sólidas pepitas de gosto, textura e - sim - simplificação que se fruem pondo de lado tudo o que possa interferir. Isto é: o corpo reduz-se a um conjunto de pailas gustativas.

No meu caso autorizo sempre uma ligeira intrusão da memória: a de ir com o meu Pai e um colega dele ao mercado 31 de Janeiro às - penso, mas não tenho a certeza e de qualquer forma pouco importa - quintas-feiras comer uma cabeça que o senhor do restaurante seleccionava e punha de lado para nós. Era o dia do Little Sheraton e era maravilhoso; por isso esta memória - mas só esta - é autorizada cada vez que como uma cabeça de peixe cozida com maestria e amor (como de resto tudo o que é feito na Merendinha do Arco, laudas sejam cantadas ao senhor David e à senhora da cozinha, cujo nome desconheço mas merece um stock de velas na Igreja de S. Domingos).

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