23.2.17

Devagarinho, família

É preciso começar devagarinho, como quem vai ao mercado sem saber o que vai comprar porque se esqueceu da lista de compras em casa. Um mercado ("alimentar", precisa-se para que não haja dúvidas) numa praça cheia de sol. O sol traz histórias, é sabido. Mais do que a chuva, que nos faz ficar em casa e não esquecer a lista de compras  - que de qualquer forma se leva para o supermercado e não para a feira de rua -.

O sol convida à meditação; quem diz meditação diz memórias e memórias rima com histórias.

Devagarinho, portanto: sol na praça, vinho branco na taça. Algures uma família. Família e futuro são sinónimos? Família e passado? Família é uma afirmação ou uma dúvida?

Família é um cenário imutável e à volta dele tudo muda. Devagarinho, claro, como quando fodemos pela primeira vez uma senhora que queremos - esperamos - seja a última. As praças em dias de mercado e sol estão cheias de memórias que não fodemos. Memórias virgens, por assim dizer. "I do not fuck much with the past but I fuck plenty with the future".

Quantas últimas senhoras já fodemos? Quantas famílias? Isto é.

Devagarinho, o tremor de terra reconstitui a paisagem. O sol reaparece, família pela mão. Devagarinho os tremores de  terra sucedem-se, lentamente. Exasperantes de tanta promessa devagarinho.

Bom, Chega de merdas. A família apareceu devagarinho, inebriada de névoa, no mercado "alimentar". Com aspas.

Família é o eixo vertical em torno do qual se organizam os erros todos que se podem cometer devagar (os rápidos escolhem outros eixos, outras paragens).

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