25.6.16

Dá volta, devagar

Vamos aproximar-nos devagar, queres? Como um navio que lentamente se aproxima do cais. Lança os cabos para terra mas não os tesa. Deixa-os brandos e continua a manobra.

Devagar. Um arco de círculo perfeito. Quando está suficientemente próximo começa a virar os cabos. De repente está em posição. Da ponte alguém diz "faz fixe". E depois, "dá volta à manobra".

Devagar. Faz fixe. Dá volta. Estamos no lugar.

Imagina que os cabos são palavras. Deixa-as brandas. Lentamente começa  a virá-las. Primeiro os lançantes,  depois os traveses. Os springs são os últimos. Vira o lançante de ré. Tesa o través de proa. Faz fixe. Dá volta à manobra.

Devagar. São as palavras que nos levarão ao lugar. São elas que nos comandam. Um navio atraca sempre contra a corrente.

Passa os cabos. Ouve. Vou dizer-te devagar. Vou amar-te devagar. Contra a corrente.

Deixa-as tesas mas não muito por causa das marés. As palavras precisam de alguma folga, como os cabos. Se as tesas demais, se lhes tiras a folga rebentam. Dois corpos, duas vidas precisam de espaço. Lentamente, como as marés, como um navio atraca, como tu sorris.

Deixa as palavras levarem-nos ao lugar. Elas sabem de onde somos, para onde vamos.

Devagar.

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