25.8.15

Silke

Ela ia descer do comboio no Entroncamento e desafiei-a a vir até Lisboa. Disse que sim, passámos o resto do trajecto a falar não sei de quê e mal chegámos fomos para minha casa para o meu quarto para a minha cama e fizemos amor a noite toda, um amor selvagem, não violento mas feroz, impetuoso, bravo como se fôssemos dois soldados de regresso da guerra como se estivéssemos a lutar e não a amar como se estivéssemos possuídos e não a possuir, como se adivinhássemos que uma vez passada aquela noite nunca mais nos veríamos e quiséssemos exorcizar tal desgraça.

Saí de manhã cedo, ainda ela estava a dormir. Deixei-lhe um bilhete: "Podes ficar até quando quiseres. Beijo. Pedro" e fui-me embora, nessa altura tinha um barco em Belém, peguei nele e naveguei para Oeste. Passei os Açores, voltei para trás, pouco antes de chegar a Lisboa virei para Norte até quase ao meio da Biscaia, voltei para trás porque já não tinha comida a bordo. Parei em La Coruña, comprei mantimentos, embebedei-me e quando acordei estava no mar outra vez, para Sul. Atraquei em Belém quase três semanas depois de ter largado. Foi assim que descobri que sou um idiota, certeza essa que me tem acompanhado desde então.

Ela não deixara resposta para além do nome, por baixo do meu: Silke.

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