5.4.15

Diário de Bordos - Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil, 05-04-2015

Mudei de hostel. O preço é o mesmo, mas este está vazio. Felizmente. Não consigo imaginar isto cheio. E o dono é muito mais simpático. E fica na Lapa, um bairro de que me lembrava muito pouco e do qual gosto bastante.

Fui almoçar a um boteco chamado Os Primos, aqui mesmo ao lado. E depois fiquei-me a ler mais um conto do Sérgio Sant'Anna (melhor ainda do que o anterior) e a beber um bocadinho de cachaça. Conheço bastante gente que pensa que para se conhecer uma cidade é preciso calcorreá-la; é verdade. Faço parte desse grupo. Mas isso é para quando se vai ficar muito tempo, uma semana ou mais. Para quem está de passagem - descontando dois ou três sítios obrigatórios, como a Torre Eiffel ou a praia de Copacabana - o melhor é sentar-se num bar e olhar para a cidade como se vê um filme. Se o realizador for bom e se tiver escolhido um bom lugar fica-se a conhecer o lugar em pouco tempo.

Claro que há filmes mais lentos. Mas o de hoje foi excelente. Ri-me bastante, porque os cariocas têm um bom sentido de humor; comi mediocremente mas barato, porque Os Primos é um boteco popular, nada sofisticado (como de resto o seu homónimo de Alcântara, com a diferença notória e notável de que neste se comem umas das melhores chamuças de Lisboa).

E depois vim dormir uma sesta no meu dormitório vazio.

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Alguém me falara numa feijoada que ia ser servida na Catedral. Pensei que uma feijoada com a mão de Deus não seria decerto má e fui ver. Voltei para trás. Aquilo era mais uma experiência etnográfica (ou sociológica, se preferirem) do que gastronómica; com a desvantagem adicional de o preço ser um beijo ao bispo antes do almoço e depois de uma fila enorme.

Compreendo que a igreja faça aquela clientela pagar adiantado, mas lembrei-me de S., o representative do UNHCR no Burundi. Era judeu, parecia que tinha saído de um filme do Woody Allen ou de um livro do Roth (consoante estava sozinho ou com a mulher), e dizia que as instituições (ou empresas, para quem preferir) católicas de ajuda humanitária prestavam um óptimo serviço "à saída da missa".

Havia muita imprensa, daí a necessidade do pagamento ab ante.

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Amanhã estarei em S. Luís, depois Belém, Panama City e Bocas del Toro. Onde quer que esteja estou a caminho de. Mesmo em Bocas, onde vou "para casa" - um ketch de 57' que vou levar, se tudo correr bem, a Gibraltar - estarei a caminho de.

A  caminho de. On my way to. Sur la route de.

Bof. O fim é o mesmo, qualquer que seja o caminho que se escolha para lá chegar.

(Confesso que não me importaria nada de que o meu tivesse sido um bocadinho mais confortável e com menos curvas. Mas enfim. Ainda vai a tempo de se corrigir. Não cheguei sequer à recta final).

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