1.10.14

Diário de Bordos - Genebra, Suíça, 01-10-2014

Ao todo, contando desde o primeiro dia que aqui cheguei - não estou seguro a cem por cento, mas creio que foi em Outubro de 78, chegado de umas vindimas em França que naquele ano se tinham prolongado muito para lá do habitual - até àquele em que tinha tudo o que era meu em Cascais, em meados de 2002 - a mudança levou algum tempo, não porque eu tivesse muitos pertences mas porque a fiz aos bochechos - estive na Suíça vinte e quase quatro anos.

Desses vivi dois em La Chaux-de-Fonds, um em Aveiro, meio em Zürich. O resto foi em Genève, quase: estive um ano em Bujumbura, outros seis meses no então Zaire, cinco ou seis vezes seis meses nos Açores e em Lisboa. Fiz uma vez as contas - um bocadinho forçado e contra vontade - e lembro-me de que passei fora mais de metade do tempo que aqui vivi. E mesmo na metade em que estava cá frequentemente em viagens.

Foi assim que me habituei a olhar para Genève: um sítio ao quel é sempre bom regressar, mas que passado algum tempo é igualmente bom de deixar.

Gosto de voltar a Genève: a limpeza das ruas, a ordem, a boa educação - o mais das vezes fingida e interesseira, mas enfim: sempre preferível à honesta má educação ou agressividade de outros lugares - os autocarros que circulam com horários e os respeitam, os supermercados onde se encontra tudo e mais alguma coisa, a qualidade dos produtos, estas faces que me são familiares apesar de não as conhecer porque de certam forma foram - e são - um dos meus povos. Gosto de ver as ruas cheias de bicicletas, carros que miraculosamente conseguem circular sem buzinar e estacionar sem ser nos passeios ou em segunda fila, os cafés onde se pode beber um copo de bom vinho sem ficar com a cabeça aos gritos porque as pessoas não gritam e a música não está aos berros.

Desta vez gostei ainda mais: reencontrei amigos que não via há muito tempo, e - sobretudo - vejo os meus filhos jovens adultos, creescidos, como serão. Serão boas pessoas.

E um Outono invulgarmente doce, o que não estraga nada. E hoje a fondue de queijo, obrigatória.

Algumas coisas mudaram, claro: já não se pode deixar as portas dos apartamentos abertas, por exemplo; e as bicicletas nas ruas estão presas por cadeados que resistem a um tanque de guerra. Já não se vêem carros com pranchas de windsurf no tejadilho o ano todo, presas simplesmente por um elástico e um cabo.

Mas continua a ser um prazer chegar a esta cidade. E deixá-la amanhã vai ser um bocadinho cedo de mais.

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Os genebrinos acabam de votar contra uma nova travessia rodoviária do lago. Abençoado sistema político! Em contrapartida votaram a favor de uma nacionalização dos seguros de saúde que felizmente não passou - era uma votação federal e a dupla maioria (povo e cantões) - votou contra.

Basicamente tratava-se de criar um equivalente à nossa seguran4a social - na Suíça os seguros de saúde são privados. O sistema precisa de reformas - principalmente no sentido de o tornar menos socialista - mas criar um SNS seria deitar fora o bebé com a água do banho. 

A Suíça tem o melhor sistema político do mundo porque os políticos não têm poder nenhum. É um modelo que devia ser adaptado por todo o mundo.

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