14.11.13

Diário de Bordos - Genebra, Suíça, 14-11-2013

As mesmas mulheres bonitas, sempre: Genebra tem a maior concentração delas por metro quadrado; bate qualquer cidade que eu conheço. Não sei porquê nem como fazem, mas não há mulheres feias nesta cidade.

E a mesma profusão de línguas: numa hora metade das línguas vivas do planeta, e um terço das mortas.

E a mesma cor: cinzento. Genebra é a cidade mais cinzenta do mundo ocidental. Nem quando está sol ela muda de cor. De qualquer forma acontece tão raramente, entre Novembro e Abril, que nem vale a pena sonhar com isso. Hoje há um bocadinho de luz, uma luz clara como leite diluído em água, fria, a fazer ressaltar a geometria rígida e severa da arquitectura, a impecável limpeza das ruas, o silêncio.

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Hoje é dia de fondue. Tentámos convidar duas ou três pessoas, mas só uma pode vir. Improvisar seja o que for na Suíça é pura e simplesmente impossível. Tudo é organizado e planeado milimetricamente, tudo é previsto e esperado. Isso não faz dos suíços uns chatos, ao contrário do que muitas vezes se pensa. Não são. Mas a vida é.

Excepto, claro, quando se entra num supermercado: a abundância de línguas que se ouve na rua reflecte-se na variedade de produtos que se encontram à venda em qualquer loja, seja ela grande, pequena ou média. Na Manor há um balcão de comidas prontas com cinco ou seis países (Portugal era um deles, entre a Tailândia e Israel, se não me engano).

Para um produto ser exótico tem de vir de Marte.

No jornal discutem-se os temas das próximas eleições: uma iniciativa destinada a limitar os salários elevados das empresas a doze vezes o salário mais baixo (a iniciativa chama-se 1:12) e não creio que passe; uma outra destinada a aumentar o preço da vinheta das autoestradas para cem francos (actualmente custa quarenta - é isso que um automobilista suíço paga para utilizar toda a rede de autoestradas do país durante um ano as vezes que quiser: trinta e três euros). O objectivo, dizem os promotores da iniciativa, é diminuir os acidentes e os engarrafamentos das autoestradas. Tão pouco vai passar. Os suíços sabem distinguir a demagogia, reconhecem-na à légua, têm um longo treino.

Estes são os temas federais (há outro, um projecto da UDC, o partido mais à direita da paisagem política suíça sobre um apoio às famílias. Como por acaso não consigo perceber de que se trata). As votações cantonais têm três ou quatro temas, dos quais o único que fixei foi a construção à beira do lago: um partido de esquerda quer limitá-la, todos os outros contestam a ideia. Para quem se interessa por política a vida na Suíça não é chata, antes bem pelo contrário.

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Reencontro a família. Mas isso é demasiado bom para ser falado.

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