8.6.13

Diário de Bordos - Panamá City, Panamá, 07-06-2013

Sou um homem fundamentalmente fiel (ou então com pouca imaginação, uma das razões - mas de longe não a única - da fidelidade). Cada vez me convenço mais de que a falta de imaginação - e a fidelidade - têm inúmeras e indescritíveis vantagens. Hoje, por exemplo, aventurei-me para fora da minha zona, o equivalente (para melhor) do Bairro Alto em Panamá.

Fui à Trump Tower, que fica na zona nova, arranha-ceusada da cidade. Não é de todo diferente do que eu esperava, e esperava muito pouco. Trump é Trump, há sons que não enganam. Tive que fugir dali como se estivesse num centro comercial.

A parte boa da noite começou aí. Com os meus calções, a t-shirt verde que dantes era a da esperança e hoje é apenas a t-shirt verde que comprei no centro das tartarugas de Bequia foi praticamente impossível fazer parar um táxi - são selectivos, os táxis em Panamá: ou não param de todo ou param e quando lhes dizemos para onde vamos dizem simples, honesta e francamente que não e vão-se embora, sem mais -. Acabei num supermercado aberto,  ao que eles dizem (se for como o de Brighton não quer dizer nada) vinte e quatro horas por dia. Os talvez primeiros quatro carros a quem perguntei se estavam livres disseram que não; com o quinto tentei uma abordagem diferente e perguntei quanto me cobraria para me levar a casa, ao Casco Viejo. "Seriam dez dólares. Mas não o posso levar, estou à espera de alguém".

Aqui já há um sinal. A maré estava a mudar. O senhor explicou-me porque não me podia levar (e pouco depois confirmei que tinha dito a verdade). Enfim, cortando tudo o que pode e deve ser cortado: encontrei um taxista que me levou ao Casco Viejo por três dólares três. Continuando a minha veia exploratória - a qual não tem, evidentemente, nada a ver com a infidelidade - descobri um pequeno restaurante chamado Lovaina, que é exactamente aquilo de que eu preciso numa cidade que não conheço: pequeno, barato, bom, e (no fim mas não em último) com excelente música electrónica.

Não é o Swayzak, tant s'en faut; mas é boa, e vai bem com o cansaço e o resto.

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Estou cansado, exausto, esgotado. Que bom seria, se o resto fosse isso. Mas não é. O resto é a minha outra casa, à qual regresso como o filho pródigo após alguns anos de ausência - mas, ao contrário dele, com vontade de de lá sair o mais depressa possível -.

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A vantagem das cidades grandes é terem zonas das quais não gostamos.

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Amanhã o programa é pouco aliciante: comprar sapatos - já expliquei a Alexis, o taxista pelo qual Dios se fez substituir que não posso ir a centros comerciais (salvo raras e Romeo y Julieta excepções) - mudar de operador de telefone celular (o que tenho agora bombardeia-me com mensagens promocionais) e trabalhar.

O trabalho é como o amor: quando é demasiado farta, enjoa, cansa. Por muito que se ame o ser amado, ou o trabalho.

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Hoje tentei comprar um cigarro avulso; não vendem, só aos maços. Se os governos quisessem realmente que se fumasse menos a venda de cigarros avulso seria obrigatória. Consegui despachar alguns rapidamente: dei três a um arrumador de automóveis que me pediu um. Pode ser que diga aos colegas. Se fosse em Antígua ter-lhe-ia dado o maço; mas em Antìgua não há arrumadores de automóveis, e  eu não fumava.

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