6.3.13

Resiliência, pecado

Uma amiga de há muito e muito querida dizia-me hoje que o que mais admira em mim é a capacidade de me reconstruir, de me refazer a cada cataclismo - ela assistiu a algumas das piores catástrofes pelas quais passei, e ajudou-me muito em algumas delas.

Qualquer marinheiro está habituado a lutar contra - ou melhor, a lidar com - forças que não controla (por isso de vez em quando os versos de Leornard Cohen no Sisters of Mercy - "You who must leave everything that you can not control / it starts with your family, but soon it comes around to your soul" me fazem sorrir um pouco, docemente). Lidar com o vento, o mar, o tempo, as correntes - não controlamos nada disso, mas lidamos com todas essas forças e não abandonamos.

Acontece que não abandonamos porque temos uma técnica, um saber, instintos que nos permitem sobreviver e, pior ainda, gostar do que fazemos (se bem gostar não seja o verbo adequado; mas isso agora é um pormenor).

Não sei, contudo, lidar com outras forças igualmente incontroláveis: o acaso, o infortúnio, o azar. Apesar de, verdade seja dita, serem minhas companheiras de jornada há muitos, incontáveis anos. Aos cinquenta e cinco anos ainda não aprendi a lidar com essas forças - não sei se alguém jamais aprendeu, de resto. Eu não.

Mas só conheço uma forma de reagir a tudo o que é mais forte do que eu: lutar, resistir, não me conformar, não deixar ir, não abandonar. Perder é não ir à luta, não é sair derrotado.

Só perde quem não quer voltar a ser feliz. Mesmo se, como continuam os versos acima citados, "your loneliness says that you've sinned".

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