29.2.12

Diário de bordos - 290212

A livraria chama-se Poeme-se. É bonito.

Hoje vi uma publicidade a uma escola de inglês. Uma frase dizia "Rua de Portugal", mas Portugal estava riscado com uma cruz encarnada, e por baixo tinha "Inglaterra". A conclusão era "Se nós tivéssemos chegado primeiro a história seria outra". 

Mudei de hotel. O quarto não é melhor, mas pelo menos é branco, luminoso. E está a dois minutos a pé do Cafofinho da Tia Dica, meu escritório, sala de internet e sala de jantar.

Raimundo da Costa Pereira vende, no mercado da Praia Grande, (ou Casa das Tulhas, ou Casa da Praça, ou uma infinidade de outras coisas) uma bebida - ou melhor, três - que ele garante serem afrodisíacas e eu garanto serem boas. Chamam-se Fogozinho, Fogozão e Fogozada (das três provei duas; são essas cujo gosto garanto. Mas por favor não me perguntem quais foram).

Não há mercado no mundo que não tenha o seu Raimundo da Costa Pereira (sr. Costa, para os amigos e daqui em diante). Adepto fanático de um clube de futebol chamado Corinthians - ao qual, promete, será fiel até à morte - o sr. Costa perora longamente sobre a política local, a micro política local, a história da Casa das Tulhas, as suas conversas com vários e proeminentes políticos. Mas quando lhe faço uma pergunta simples ("quem construiu o espaço onde estamos?") ele não sabe, hesita, tergiversa.

As paredes do seu box estão cobertas de tudo o que diz respeito ao Corithians e a ele próprio, sr. Costa. Uma senhora com cara de socióloga (sem ofensa) acompanhada por um senhor com cara de músico popular (não é um elogio) ouvem-no com atenção. Quando faço a pergunta olham-me reprovadoramente (antes tinha perguntado ao sr. Costa o que estava a beber, e ele disse-me "uma bebida afrodisíaca, etc. - foi muito longo, não retive tudo - e a senhora com cara de socióloga olhou para mim com um sorriso).

Gosto muito dos senhores Costas deste mundo porque ajudam a passar o fim de uma tarde.

Uma vez escrevi uma ode (não é imodéstia, é falta de vocabulário) às cidades em geral e a Lisboa em particular. Hoje poderia acrescentar meia dúzia de coisas à secção "cidades em geral" desse post: o prazer simples, mas generoso, que é almoçar num restaurante onde não tenho de pesar o que como; o prazer, ainda mais simples e ainda mais generoso de ir beber um café e comer um  croissant (mesmo sendo cinco da tarde, e o croissant sendo da família dos densos) numa pastelaria - não era bonita, reparem, apesar de pertencer claramente a um francês, mas era uma pastelaria -; poder escrever este post numa rua onde passam pessoas, e não motas de som, carros de som, bicicletas de som (e algumas dessas pessoas são bonitas, ma foi). E posso jantar "até à meia noite, por aí".

Vou ficar mais um dia em São Luís. Aborrece-me porque mais um dia em São Luís são provavelmente mais dois em Parnaíba.

Tive de voltar ao hotel onde estava; reconheci o caminho pelos vendedores nas esquinas. Talvez as ruas não sejam assim tão inseguras, after all.

O bar à frente da Tia Dica é um dos raros sítios no Brasil (do meu Brasil, naturalmente) que não só sabe que há música fora do Brasil como, aparentemente, não sabe que há música brasileira (é uma qualidade). Infelizmente a meia dúzia de metros alguém lho lembra violentamente.

Por cima do Cafofinho da Tia Dica há uma escola de capoeira. Como os soalhos são antigos um gajo vive na impressão constante de que lhe vai cair em cima um monte de tipos grandes, escuros e sorridentes.

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