6.10.11

"Esta coisa de gostar de alguém"

...aqui. (Ao que percebi a coisa começou aqui.)

É sobre gostar de alguém, e tem períodos como "Quando gostamos de alguém, o alguém confia, sabe que se não atendemos ou não respondemos logo é porque alguma coisa na teia infinita dos múltiplos afazeres de cada um nos impediu de responder ou estar online. E não é porque essa coisa é mais importante que ele ou ela, é porque a vida também é feita de trabalho, de idas ao banco, de chatices e de reuniões que não acabam de acontecer na nossa agenda. Da mãe que nos pede ajuda, do chefe que nos pede um relatório, da amiga que está a sofrer, da EMEL que nos está a bloquear o carro ou do almoço que nos caiu mal."

Ou: "Quando gostamos de alguém, confiamos. Ah… esta é a parte mais difícil. Eu descobri isso agora. Quando finalmente descobri que confio em alguém. Que confiar em alguém é a maior prova de amor. Que aceitamos o outro. Que o outro nos aceita. E que sabe que se passamos a mão pelo braço de outro, e se nos rimos que nem perdidos com o que outro alguém diz, não é por mal. Não queremos ir para a cama com esse outro ou outra. Apenas gostamos de flirtar. E quando alguém gosta de nós aceita-nos como somos. Ainda que com queda para apreciar o menu da vida. Ser fiel por falta de opções é muito fácil, certo?"

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Isto é um desafio ao qual ninguém consegue resistir, não é? ("Ninguém num sentido muito restrito, claro.)

Gostar de alguém é uma prisão; e a liberdade é poder escolher as prisões. Gostar de alguém não é uma fatalidade, é uma escolha.

Gostar de alguém é um exercício prático de simetria; é simetria aplicada. É impossível gostar da dissimetria. A simetria é a base da evolução, A dissimetria é instável.

O amor é o encontro de duas liberdades, não o encontro de duas prisões; ou, pior ainda, o de uma prisão com uma liberdade.

Gostar de alguém é poder ser o que somos, como somos; porque se não formos, não somos, e ninguém pode amar quem não é.

Amar é bom; ser amado também. Se amar for um sofrimento, ou ser amado uma dor permanente não é de amor que falamos.

O amor não existe, como não existe o mar, o vento ou "as loiras". Há amores, mares, ventos e pessoas.

O amor é uma colecção de factos, e de actos; não um colar de esperanças, dúvidas ou interrogações.

O amor é uma diálogo de silêncios e gestos; não uma conversa ou uma declaração de intenções.

O amor é bom hoje; amanhã será melhor ainda. Se não for, não é.

O amor não é uma rede por baixo dos nosso medos; é um telhado por cima das nossas ousadias.

Amar é uma questão de pele e de medula; se ficar por uma ou não passar da outra não é amor, é medo.

O amor não é o fim da solidão: é o princípio de duas solidões. O amor não é solúvel na solidão, nem a dissolve.

O amor não é um muro que protege, é uma porta que se abre.

O amor é egoísta. Amar é amar-se, via um intermediário. O outro acaba, nós morremos. Não acredito em amores altruistas: não são amor, são uma doença.

O amor é uma opção: amo-te se (me deixares amar o que amo), se (me deixares ser quem sou), se. Não há amores absolutos. Ou melhor, há: morrem.

Amar é partilhar: este deserto à minha frente é porque tu és; e não seria se tu não fosses. O rum é melhor se tu estiveres a olhar para ele, se o provares, se o reprovares. O amor é uma presença no meio da ausência, uma presença no deserto, uma presença no mundo. Um amor que confunde presença com presença física equivoca-se, fica-se pela superfícia das coisas.

O amor é um olhar, um toque e uma palavra; por esta ordem.

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Amar é amar-te. O resto está para o amor como o café solúvel para o café, o chá em saquetas para o chá ou a cerveja sem álcool para a cerveja.

Amar é amar-te. O resto está para o amor como a música pimba para a música, ou um dia sem vento para a vida.

Amar é amar-te. O resto é uma ilusão de óptica. Uma ilusão,  tout court.

1 comentário:

  1. Que maravilha! Estou como a Tatiana diz: qualquer dia vamos vê-lo na Feira do Livro a dar autógrafos. Está quase, já está a sitemazar.

    Helena Soares

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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.