2.5.10

Ana Maria

Um homem sentado no topo de uma árvore no jardim do Príncipe Real grita "à la femme que j'aime; to the woman I love; à mulher que amo". É poliglota e polido. Um dia conheci a mulher, que lhe tinha ido deixar um saco com meia dúzia de bananas e um sumo da Compal. "Inicialmente incomodou-me um bom bocado, mas agora não me faz diferença. Até gosto". Isto na primeira vez que lhe falei; depois fomo-nos encontrando de vez em quando e trocando umas palavras de circunstância. Pouco a pouco uma certa amizade foi-se criando entre nós. Já não falávamos só do tempo. Um dia abordámos de novo, pela primeira vez desde aquele encontro, o tema do marido.

Chama-se Ana Maria, tem cabelos pretos muito compridos e olhos enormes; respira vida, energia, optimismo, auto-confiança. "Faz isto desde que viu o Ciccio Ingrassia no «Amarcord»: Disse-me que ao fim e ao cabo sempre tinha mais sorte do que ele, condenado a gritar "Quero uma mulher! Quero uma mulher!". "Eu ao menos já tenho uma; é a melhor do mundo; amo-a. Acho que toda a gente devia saber isto", explicou; e subiu para cima da árvore. Como havia um grupo de turistas na praça começou em inglês ou francês, e aquilo ficou-lhe". "E a Ana Maria não se incomoda? A sério?" "Não. Sabe, a verdade é que tenho um amante. E assim, enquanto o Lucas está em cima da árvore eu estou descansada. Agora, por exemplo, vim cá deixar-lhe esta comida, porque logo à tarde tenho o Pedro em casa".

(Cont.)

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