6.3.10

Artis bis

O Artis reabriu e hoje fui lá experimentar. O "conceito" - as aspas não significam que menospreze a coisa, longe disso - é "produtos portugueses", única e exclusivamente. Quando lá cheguei estava a tocar uma música horrível, pior do que qualquer música portuguesa da qual nos possamos lembrar, Sérgio Godinho incluído. Fiz a observação ao empregado, mencionando o jazz que lá passava antes, o facto de haver jazz português et al. e ele foi adorável e mudou e passou um bom disco de jazz.

Depois encomendei um chouriço assado "na aguardente como antigamente" (é assim que está escrito na lista). À primeira vez teve que voltar para trás, por manifesta insuficiência do material ardente. Quando voltou - mais uma vez, os empregados foram de uma correcção e uma simpatia notáveis - a coisa revelou-se saborosa mas seca, estupidamente seca. "É porque é de Valpaços e é secado no fumeiro" e etc. e lenha e lume e tal (acho eu, não garanto). Aquilo pode ser de Valpaços e ser fumado ao lume de lenha "como antigamente" (desta lembro-me) - estava seco de mais. Era um chouriço post-moderno, sem ponta de gordura. Bom, mas seco. Comi metade, felizmente. Prefiro coisas boas a coisas feitas como antigamente, se forem antagónicas.

Finalmente veio um caldo verde. Mais uma vez saboroso. Mas aquilo era um puré de batata ligeiramente diluído, com couve e uma rodela de chouriço. O empregado foi de novo simpatiquíssimo e agradeceu-me as observações que lhe fiz: menos batata, uma pinga de azeite, cozer as batatas com o chouriço (é como faço. Talvez não seja canónico). Passo a ginginha - não conheciam a Sem Rival, só a têm de Óbidos e de Alcobaça; uma "herbácea" a outra com "toque de canela". "Desculpe, quando bebo ginginha só quero que saiba a ginginha; estou a marimbar-me nas ervas e na canela".

É bom o Artis ter reaberto. Esperemos que as coisas afinem um bocadinho - e que eles comecem a considerar que o whisky é um produto português. Ou quase. E que a ginginha Sem Rival é, na opinião de todos os críticos independentes e objectivos deste país (sim, que a subjectividade não é para aqui chamada) a melhor deste país e arredores deste país, tão maltratado, coitado deste país.

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