24.2.10

Injustiça

No outro dia fui a um concerto. Era do Mahler. Sei porque é o único músico posterior ao século XVIII que consigo ouvir. E o Ravel, de vez em quando (e o Bartok, mas esse não é posterior a nada. É anterior a tudo). Era a Segunda, a que fala da Ressurreição. Mas aquilo correu mal. A meu lado estava um casal, e a gaja não parava de murmurar aos ouvidos do homem "amo-te" e merdas assim. A certa altura disse-lhe para se calar, e o gajo dela não gostou. Disse-me "cale-se você". E eu respondi "estás aqui estás a levar um murro nos cornos". Mas falei um bocadinho alto de mais, pelo que toda a gente à minha volta se pôs a dizer "schiu". O gajo tinha falado baixo, e eles pensaram que era eu que estava a fazer o escabeche. Não era, está claro. De maneira gritei "vão pró caralho!". O gajo que estava atrás de mim deu-me um calduço, com força. Ora se há coisa que eu não suporto é a injustiça. Levantei-me e enfiei-lhe um pêro. Foi aqui que a confusão se generalizou. A gaja que amava o outro começou aos gritos. Dei-lhe uma lambada, leve, de mão aberta, só para ver se a calava; mas o gajo não percebeu e disse-me "não voltes a tocar nela, ouviste?" Para além da injustiça se há outras coisas que não suporto são as ameaças estúpidas e a cobardia. Nem respondi: dei-lhe um murro com força na boca, para ver se lhe partia alguns dentes. Parti. Nesta altura a orquestra já tinha parado de tocar - foi logo a seguir ao meu grito de "vão para o caralho!" (se calhar o maestro percebia português, não sei). O gajo que estava na fila de trás e me tinha dado o calduço levantou-se e voltou a bater-me. Porra, não gosto que me batam, sobretudo quando tenho razão.

Enfim, poupo-vos os pormenores. Agora estou num quarto de hospital que é também uma prisão. Está cheio de grades e tem um polícia à porta. Eu estou desfeito: os gajos que gostam de música clássica não são todos maricas. Ou então era por serem muitos, não sei. Só sei que até chegar a polícia levei um belo arraial. Felizmente ela chegou depressa, a bófia. Eu já estava quase a desmaiar, já nem respondia aos pontapés (andava pelo chão de gatas, não me tinha em pé, e os gajos continuavam. E elas também - tenho algumas belas marcas que me foram feitas por saltos altos, de certeza).

Ao que parece o concerto recomeçou depois de me levarem. Ontem pedi a devolução do dinheiro do bilhete, mas recusaram. Puta que os pariu.

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