24.2.10

Emigrar

Desafiaram-me a ir para Londres. Disse que não, claro. Nunca gostei de chuva; e as inglesas cheiram mal dos sovacos. Talvez menos do que as francesas, é verdade. Mas também nunca ninguém me perguntou se eu queria ir para França, portanto isso não me incomoda muito. Sou recepcionista num hotel de cinco estrelas; não preciso de emigrar: todos os dias são como se emigrasse. E todos os dias o que vejo me tira qualquer resto de sombra de vontade de emigrar que porventura tivesse. Os meus amigos têm a mania de que os portugueses são pior do que os outros. Eu não acho. Pelo menos as nossas mulheres lavam-se, e não nos enganam como as bifas, ou as alemãs; parecem esquilas, a saltar de pau para pau. Nem tempo têm para se lavar, entre quecas. As nossas não são assim. São fiéis, e limpas.

É por isso que não quero emigrar. Gosto de Portugal - enfim, de Lisboa. Exceptuando Sintra, Cascais e Setúbal nunca saí daqui. E Vila Franca de Xira. Uma vez fui lá, por causa de uma gaja. Mas quando lá cheguei descobri que ela era casada e vim-me embora. Não gosto de fazer aos outros o que não quero que me façam. E cornos não, nem pensar. Excepto nos bifes, claro. Ou nos alemães. Isso é outra coisa. Não fazem ideia das que já comi, seja nos quartos delas, seja aqui no escritório da recepção.

É por isso que não quero emigrar. Bem sei que ganharia muito mais, e teria uma vida melhor. Mas depois, lá no estrangeiro, que mulheres viriam pedir-me para as comer? Portuguesas?

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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.