1.10.09

Olissipoterapia

Dias sofridos, magoados, agitados, inquietos. Ao almoço esqueço-me de qualquer coisa no restaurante; agora, doutra na loja de bicicletas. Esqueço-me de tudo, de todos: dias em que o universo se transforma numa bola de dor, de impotência, se apaga e apaga tudo.

Regresso ao rio, aos telhados, à luz do fim do dia, a esta esplanada com vista para a cidade, às antenas de televisão - rídiculas e ubíquas grades de uma prisão invisível na qual cada lar português esconde a sua indigência, o seu individualismo. No beiral de um dos telhados um pombo coça-se frenético; um pouco mais acima um outro procura comida; num banco, uma senhora em contra-luz faz a mesma coisa que eu: olha para a cidade e escreve-se, se calhar. Pouco a pouco as coisas recompõem-se; recompor-se-ão. Penso em ti. A dor de cabeça recede, tal como a maré, que agora está a baixar (vejo-o pelo cacilheiro que atravessa, todo de lado) e vai, irremediavelmente, mudar. Daqui a pouco o sofrimento não será mais do que a irreconhecível folha de uma árvore de onde pendem milhares; daqui a pouco, a luz será luz e as antenas antenas; daqui a pouco Lisboa terá agido, de novo; como se fosse, sempre, a primeira vez.

"Time to be positive" diz o cartaz que vejo quando saio. "Too late, meu caro".

1 comentário:

  1. Têm o mesmo efeito positivo em mim, essas paragens contemplativas por Lisboa. São energéticas, como o chocolate. ;-)

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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.