7.6.09

Reboques

De todas as profissões do mar a mais nobre é - para mim, e a opinião está longe de ser partilhada - a dos rebocadores salvádegos.

Uma das coisas mais dificeis num reboque é calcular a dimensão do cabo de reboque: demasiado curto (ou tenso, se preferirem) e ele parte-se; demasiado longo (ou "solto") e o rebocado pôe-se a bailar de tal forma que por vezes arrasta com ele o rebocador. É preciso ajustar constantemente a tensão do cabo ao estado do mar.

Por vezes é mesmo preciso largar completamente o rebocado; deixá-lo a pairar, até o mau tempo passar. Depois vai-se buscá-lo, e continua-se: perderam-se alguns dias, quando muito. E o que são alguns dias, numa viagem?

É no mau tempo, e na maneira de o enfrentar, que o rebocador salvádego mostra o que vale: o critério é chegar com os bens e as vidas. Não é mostrar que se é o mais valente, o mais forte, o mais whatever. Chegar, com os corpos e os bens intactos. É tudo, e é muito.

3 comentários:

  1. É tudo; e é muitíssimo.

    Um excelente post, Luís. Gostei muito de ler.

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  2. Obrigado, Fugidia. O mar é um inesgotável poço de analogias e exemplos para outras coisas, não é?

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  3. Luís, li, não há muito tempo, um artigo sobre rebocadores, em que se revelava que um dos grandes especialistas portugueses na condução destas operações no Tejo é uma mulher. Fiquei com uma ideia completamente diferente da que tinha da importância e das exigências da actividade. Para além da admiração que sinto quando vejo esses pequenos Davides puxar, sobre as águas, enormes, pesadíssimos, Golias. Também não menosprezo, evidentemente, o papel de todos os rebocadores simbólicos do mundo. :-)

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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.