15.9.08

M.

Hoje encontrei uma jovem, e muito bonita, senhora. Conheci-a há muitos anos, aqui em La Rochelle. Era a namorada de um tipo que eu detesto, sempre detestei, e ainda mais desde que trabalhei com ele numa regata.

Um dia tive a impressão que ela me perseguia, um pouco; não dei seguimento, para – forçoso é reconhecê-lo - meu grande espanto e insatisfação, a posteriori, quando penso nisso.

Depois, muito depois vim a saber que ela tinha uma “relação aberta” com o namorado. Não gosto de “relações abertas”; gosto de regras – seja de as seguir, seja de as infringir. Mas detesto a ausência de regras. Já me aconteceu (cough cough cough) ter uma ou outra relação adúltera. Já tive algumas (poucas, apresso-me a esclarecer), relações livres, voluntárias, simétricas, inevitáveis (imperiosas, mesmo, algumas delas); mas “abertas”, não. As relações são, por natureza, definição e tradição coisas fechadas. Não são abertas.

M. hoje estava mais bonita do que a última vez que a vi, mais redonda, madura, como um bom vinho que envelheceu calmamente, ao abrigo de grandes tremores de terra, excessos de calor e frios calamitosos.

Pediu-me para lhe telefonar quando cá voltasse – mas não me disse para ir jantar com ela. Não é só o desejo que tem um prazo de validade. A abertura das relações também, provavelmente.

3 comentários:

  1. Sem dúvida, Luís: tem um prazo de validade a abertura das relações, como o tem a abertura das pessoas. O amadurecimento envolve isso mesmo que refere como a adesão às regras, senão a necessidade delas. A marcha faz-se, inevitavelmente, no sentido do «clássico».

    ResponderEliminar
  2. Pela minha parte, caro Luís, não concebo relações sem liberdade. O que está muito longe de significar que me dê bem com relações abertas. É o velho chavão: liberdade e responsabilidade, ambas essenciais.

    ResponderEliminar
  3. Ana, liberdade não significa ausência de regras; mas significa efectivamente responsabilidade para nos movermos dentro delas.

    Mas também não concebo uma relação sem liberdade: como tirar ao outro aquilo que mais valorizamos, que mais queremos, e protegemos para nós?

    Luísa, não partilho a sua opinião: o sentido da marcha, como tão bem lhe chama, não tende sempre para o mesmo lado. Tende para o lado oposto ao do ponto de partida.

    ResponderEliminar

Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.