31.3.07

Tão hospitaleiros que eles eram

Tão hospitaleiros, tão hospitaleiros, que a gente a querer vir-se embora e eles não deixavam.

(Não só quem nos odeia ou nos inveja
Nos limita e oprime; quem nos ama
Não menos nos limita.
...
)

Imigração e Emigração

Ainda a propósito do poster do PNR: cada vez oiço mais pessoas a dizer que "isto" não tem safa, e que querem é "ir-se embora". É um discurso que não ouvia há muito tempo, pelo menos desde os finais dos anos 90.

E o pior é que não é a pedreiros nem empregados de mesa que oiço este desejo antigo não de mudar, mas de se mudar: é a pessoas formadas, donas de pequenos negócios, etc. O PNR, em vez de clamar vacuidades contra a imigração, poderia talvez dizer qualquer coisa sobre a emigração, não?

O ar dos tempos

Grande polémica devido a um poster de um imbecil qualquer anti-imigração. Ao contrário de, por exemplo, França, o nacionalismo rasca em Portugal não merece muito tempo, nem atenção. Felizmente.

Mas já vale a pena perguntar se haveria o mesmo alarido caso o poster clamasse "Morte aos Patrões", "Os Fascistas não Passarão" ou inanidades do género.

PS - muito mais interessante do que o nacionalismo português, é o ódio de antologia que os portugueses sentem por si próprios. Este deve ser o único país que conheço no mundo em que é melhor ser estrangeiro do que nacional.

PS2 - Já não é bem verdade: ainda há pouco tempo um alemão suicidou-se no Algarve. A nossa burocracia mata tudo: pessoas, projectos, energias, vontades, sejam elas nacionais ou estangeiras.

O ar dos tempos

A ler: "Um blog onde se pode respirar".

30.3.07

Château du Marais

 
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Château du Marais

Fragmento

...dans les romans et les magazines de mode les femmes ne veulent jamais d'hommes fauchés, malades, gros et seuls. Elles préfèrent les hommes riches, sains, minces, avec un salaire régulier et, si possible, elevé.

Je me demande qui a raison - les romans et les magazines de mode, ou la vie?

Dúvida

Fosse por pena, fosse por generosidade, o barman serviu-lhe uma dose enorme de whisky. Ou por simples bom senso, vá saber-se.

Aristocratas, Suicidas, Deuses e Palermas

"Não há", é verdade, "aristocrata que se preze que não tenha uma camisola de lã com um buraco". É igualmente indubitável que há muito, muito tempo - meia dúzia de dias, pelo menos - não passava um momento tão mau: a música pimba brasileira é tão execrável ou pior que a portuguesa, é pior que a adolescente feia, falsa loira e camisola cor-de-rosa que fuma, e telefona, compulsivamente. Deve haver poucos lugares na terra mais desagradáveis do que um centro comercial; e de todos os centros comerciais, não há pior do que este; e dentro dos centros comerciais, não há pior zona, mais abominável, mais execrável, mais miserável, do que o food court; e do food court todo, este restaurante é o pior. Esta mistura de mau vinho, música pimba brasileira, adolescentes feias e nevróticas, crianças aos berros, caixeiras de supermercado e cheiro a comida chega para testar qualquer potencial suicida - se não se matar à saída, vai viver para sempre, como os deuses e os palermas - mesmo com buracos na camisola.

27.3.07

"Proper conduct and language..."

Por mim, não vejo nem oiço comportamento, nem linguagem, impróprios:

26.3.07

Concurso

Salazar ganhou. E não contentes com isso, os portugueses que votaram puseram Cunhal em segundo lugar. Só faltava o Marquês em terceiro, para o Grand Slam!

Dissonâncias cognitivas

Grande burburinho na rádio: "a extrema-direita" quer "conquistar" uma faculdade - leia-se, a associação de estudantes dessa faculdade.

Não percebo: a extrema-esquerda controla uma data de associações de estudantes, e ninguém se dá ao trabalho de publicar seja o que fôr.

23.3.07

Mais vale prevenir que remediar

O Primeiro-Ministro apregoa aos quatro ventos que anda a fazer reformas e - decerto porque as "condições" a isso o forçam - mais não faz do que ténues esboços de reformas, com mais recuos do que avanços; diz que é engenheiro, e afinal é só quase engenheiro (o que em si não tem importância nenhuma); não diz claramente porque é que o novo aeroporto tem que ser na Ota - mas diz que não corremos risco nenhum com a concentração de poder sobre as Polícias.

Eu não acredito muito. É um risco que prefiro não correr: nada nos garante que amanhã este Primeiro-Ministro, ou outro qualquer, não se veja forçado pelas "condições", ou por um complexo idiota, a abusar dos poderes que tão generosamente a legislação lhe atribui.

Mais vale prevenir que remediar, tanto mais que o remédio, num caso destes, será difícil de aplicar.

20.3.07

Hospital Egas Moniz - II

Hoje, a caminho do Hospital Egas Moniz, e no regresso também, descobri dois cafés com casas de banho infinitamente mais limpas que as do Hospital. Utilizo "infinitamente" no sentido matemático do termo: as casas de banho dos cafés estavam limpas, as do estabelecimento de saúde (pelo menos aquelas que estão abertas ao público), não estão.

Um amigo meu acha que isto são "acessórios" e "anedotas". Quanto a ele, o que conta é a qualidade dos médicos, não o estado das instalações ou a admirável organização dos serviços, que faz que uma consulta marcada para as nove horas seja realizada, por exemplo, às dez e meia. Eu não sei, confesso, se a qualidade dos médicos portugueses é de tal forma superior à dos seus congéneres europeus que justifique o ambiente degradado e degradante, humilhante, porco, miserável dos hospitais nacionais (enfim, só conheço dois ou três, mas parece que não são muito diferentes da média). Não sei.

Esta opinião do meu amigo faz-me lembrar um artigo que li uma vez, creio - mas não garanto - no Expresso, sobre o Isaltino Morais. Defendia o articulista que os autarcas ou são bons e corruptos, ou maus e honestos, e que a escolher mais valem os primeiros. Subscrevo sem pestanejar esta opinião - mas pergunto-me se não seria possível introduzir mais um elemento nao leque de escolhas: a saber, um autarca bom e honesto.

Talvez este excesso de pragmatismo seja um dos factores (eles são, decerto, muitos) que explicam certas coisas que se passam no nosso país. Talvez os médicos sejam bons: noutro dia, por exemplo, vi um distinto político da nossa praça no Hospital, no mesmo corredor lúgubre que serve de sala de espera àquele departamento - ridiculamente insuficiente, de resto. Claro que ele não esperou sentado nas cadeiras minúsculas, coladas umas às outras como num país africano - passou pela via Bus, no que não o critico (eu também beneficio de uma "ajudazinha", se bem que não consiga deixar de sentir uma certa má-consciência). Ora, se os médicos fossem maus, o senhor não teria lá ido.

Mas, quanto a mim, a qualidade dos médicos é apenas um dos elementos do conjunto de factores que constitui um serviço de saúde, não é o único. Acho que as instalações devem ser boas, e as consultas dadas à hora marcada. Todos temos direito, penso, a ser tratados com dignidade.

Afinal, o Serviço Nacional de Saúde custa-nos caro, e é obrigatório. O mínimo que lhe pode pedir é que tenha casas de banho limpas - porque ter que pagar um café ou uma água só para ter direito a utilizar uma casa de banho de um estabelecimento privado é como ter que pagar mais um imposto.

17.3.07

Já agora...

... uma citação de Woody Allen:

"The prettiest [girls] are almost always the most boring, and that is why some people feel there is no God."

Cheguei lá por caminhos ínvios, que começaram algures por aqui.

Anti-americanismo

A ler, um interessantíssimo texto sobre o anti-americanismo. Via Bloguítica.

Excerto: "No one should lightly dismiss the current hostility toward the United States. International legitimacy matters. It is important in itself, and it affects others' willingness to work with us. But neither should we be paralyzed by the unavoidable resentments that our power creates. If we refrained from action out of fear that others around the world would be angry with us, then we would never act. And count on it: They'd blame us for that, too."

Telefoto

Olha, ganhei um prémio...

valter hugo mãe, do blog Casa de Osso, organizou um imperdível concurso de fotografia.

Eu ganhei o prémio "vejo coisas que não existem, de água e árvore dentro de um tempo muito difícil de recuperar". Tanto como de ganhar o prémio, gostei do nome do prémio, que resume exemplarmente aquela fotografia, e aquilo que penso da fotografia em geral.

Obrigado.

Hospital Egas Moniz, Lisboa, 16/03/07

Depressão

A depressão é uma espécie de daltonia do espírito.

Jantar improvisado - galinha receheada com alheira

Rechear a galinha com duas alheiras de caça, boas; e colocá-la num prato de ir ao forno com cenoura às rodelas, pimento e coentros picados grosseiramente.

Levar ao forno muito quente a alourar.

Numa panela refogar uma cebola grande cortada em bocados grandes. Juntar água, dois cubos de caldo de legumes e um de galinha, martini branco e deixar ferver devagar. Especiarias (todas secas): muita pimenta, paprika, manjericão, tomilho, ervas de Provence - se tivesse levado um ou dois cravinhos-da-ìndia não teria ficado pior, parece-me.

Ir regando com o caldo a galinha que, coitada, está de seca no forno a assar em lume forte.

Servir com couscous.

Acompanhar com um bom tinto encorpado, ligeiramente taninado, do Douro ou do Dão. Convidar três bons amigos que já não se viam há muito, muito tempo (duas semanas, quase três).

16.3.07

A palavra do ano...

...é Gynotikolobomassophile e está aqui.

As tardes estrangeiras

As tardes ensolaradas de um domingo numa cidade estrangeira são feitas para nos embebedarmos devagarinho, copo a copo, como se fôssemos amnésicos, ou daltónicos.

Bis repetitia

"Mais l’air du printemps est une chose souple et tendre.
Les pores s’ouvrent, tout l’espace entre en nous
et nous nous répandons délicieusement en lui.
"

Charles Baudouin

As 4 Estações ou Santo Sol

Chegou o verão - ou antes, foi-se o inverno. Só apetece cantar laudas aos santos corpos de Santos.

Os cús e o nome

É pouco provável que tenham sido os sublimes, os magníficos, os divinos cús que por esta zona da cidade se passeiam que deram a Santos o nome; mas não é descabido pensá-lo.

Serviço Público - Vinhos

3 Pomares 2006, Branco: esplêndido, frutado mas com um fim de boca nada doce, um nariz cheio e redondo, um ataque que é uma explosão de sabores. A 4,30 euros num supermercado perto de si.

Para acompanhar um fim de tarde no Portnho da Arrábida, por exemplo.

Variações sobre um tema velho

Perdia a vida como quem perde o comboio, todos os dias.

12.3.07

Já agora:

Alguém me sabe dizer se os bombardeamentos de Israel pelo Hezbullah acabaram?

Haytham Al-Amine

"Je ne suis pas déprimé. Juste un peu désesperé, comme tous les libanais."

Haytham Al-Amine, poeta, professor, bon vivant - numa palavra: libanês - é o autor desta frase magnífica. (A mim acontece-me frequentemente o contrário: deprimido, mas não desesperado).

E destes versos:
"Il fait bon de coucher dans le lit d'une femme, (...) un lit dur mais bien sûr attendri par nos flammes."

11.3.07

A nova religião

Sou agnóstico; não acredito em deuses, sejam eles quais forem. Por isso aconselho todos a verem The Great Climate Swindle (via Cachimbo de Magritte). Uma hora e dezasseis minutos para repôr, se me é permitido o galicismo, a igreja no meio da aldeia.

8.3.07

Internacional?

Hoje passou por mim um carro a fazer propaganda do PCP, com a Internacional aos gritos.

Internacional?

PS - Já nem com um país socialista eles são solidários...

Cinefilia

Era um solitário cinéfilo: punha-se à frente do espelho e dizia "why are you not talking to me?"

7.3.07

Políticos

O único objectivo de um político é ser eleito, ou re-eleito; não é servir o seu país. Cabe portanto ao país criar, ou exigir, mecanismos que não permitam a um político atingir esses objectivos se não o servir.

6.3.07

Publicidade atempada

Faltam 3 ou 4 pessoas para um cruzeiro de duas semanas (é possível menos) na Turquia. Data: de 31/03 a 14/04, Bodrum – Bodrum, num Bénéteau 411. O preço é de 2,300 euros a dividir pela quantidade de pessoas (até agora somos dois).

Inscrições urgentes pelo mail ao lado.

Obrigado por divulgarem esta mensagem (válida apenas para pessoas simpáticas, e com quem se possa partilhar uma embarcação de vela durante 15 dias).

As regras de vida a bordo são relativamente simples: o princípio de base, a premissa, por assim dizer, é que o objectivo do cruzeiro é passar duas semanas agradáveis. Não é chatearmo-nos, nem a nós, nem uns aos outros. Não é preciso saber navegar, mas se alguém quiser aprender eu ensino de bom grado; as decisões são tomadas consensualmente, excepto as que dizem respeito à segurança, em que as minhas ordens não são discutíveis; quem quiser fazer vida de grupo faz, quem não quiser não faz; as tarefas de bordo são a dividir por todos, excepto a navegar, em que me auto-isento; as despesas comuns saiem da caixa de bordo, as despesas individuais são pagas por cada um. Parece-me que é tudo - mais simples do que isto é complicado.