24.10.06

Culpa, ou Joana

Se eu quisesse, enchia-me de culpa. Ainda mais culpa, isto é. Se eu quisesse, seria um saco de culpa, um contentor de culpa, um deus de culpa. Já o sou, sem querer... Imagina se quisesse. Nem tu me demoverias, tu que tens sempre razão, sempre. Nunca vi ninguém com menos torts que toi. Tu as toujours raison. C'est invraisemblable: l'on dirait qu'avoir raison fut fait pour toi, pour toi seule. Et avoir tort, naturellement, pour moi. Que beleza, tanta simetria: tu tens sempre razão, eu nunca, nunca. Não é força de expressão, é uma descrição lhana da coisa: tu tens sempre razão, eu nunca. Não me saiu na rifa, que queres, não ganhei razão na lotaria, não a aprendi na escola, não a obtive no guichet da assistência social, não ma deram de bónus nos milhares de empregos por onde passei até hoje. Por isso me posso encher de culpa tão facilmente, ao contrário de ti que deixaste de ter um corpo desde o nascimento do teu filho, e só voltaste a tê-lo para nascer o segundo. Depois, decidiste que não querias mais filhos, nem mais corpo. Tens razão (de qualquer forma, não sabes não ter razão, pois não)?

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