16.2.04

Internet, telefone e mudanças

Mudamos de casa, e apercebêmo-nos de quão recentes são estas tecnologias: no fundo, quanto tempo decorreu entre a descoberta da electricidade e a sua divulgação, a sua utilização numa base diária? O mesmo com o vapor, os caminhos de ferro, a aviação. Ainda me bato com a falta de telefone fixo, a incapacidade de pôr o portátil a servir de modem - e a tralha por arrumar.

Ainda me bato, sobretudo, com o facto de nada, mas nada, ser fluido em Portugal. Uma tarefa qualquer, por simples que seja, encontra sempre um obstáculo, seja ele um papel que falta, uma pessoa incompetente, um horário que se desconheça. E não se pode atribuir a culpa a uma pessoa, uma coisa, uma lei, a nada especificamente - nem sequer se pode dizer que haja "culpa": há razões, para tudo; há sempre razões, sempre.

Temos que redescobrir a diferença entre uma explicação e uma justificação.

Estas duas últimas semanas dariam um excelente esqueleto para um livro sobre a vida quotidiana em Portugal no dealbar do século XXI. Uma "Guerra e Paz" cujos personagens seriam a Dra. Mariana e o Sr. Silva (não encontrei nada que se parecesse com "Vronski").

Claro que não é nada que acordar e ver o Tejo, ou ter a "Creoula" à frente da janela, não redima - talvez seja esta a raiz do problema - Deus, dá-nos frio, neve, chuva, intermináveis invernos e verões a fingir, cobre-nos a paisagem de chaminés da Revolução Industrial e de prédios reconstruídos sobre as ruinas dos que a segunda Guerra Mundial destruiu, tira-nos esta luz magnífica e redentora, dá ao Tejo a côr do Reno (mas não dês ao Reno o fedor do Tejo, os desgraçados dos alemães já têm com que se entristecer); tira-nos este environment no qual é tão fácil e tão bom refugiar-nos quando as coisas não vão bem. Faz tudo isso, Deus - mas temporariamente...

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