24.2.04

África

Pedro Mexia tem hoje, como de costume, um magnífico artigo no DN - este sobre a descolonização. Se bem que esteja de acordo sobre o fundamental da crónica, gostaria de fazer duas ou três observações:

Do lado de lá, os africanos tiveram as mesmas experiências, mas com um acento quase exclusivo no lado doloroso que todos estes períodos históricos trouxeram - Colocar o acento quase exclusivamente nos aspectos negativos da descolonização faz parte desse argumento falacioso, ou melhor, fraudulento, que consiste em escamotear os factos positivos, e irrefutáveis, da colonização: coisas com a esperança de vida, a taxa de mortalidade infantil, a educação, etc. O PIB per capita no Gana em 1960 era mais elevado que o da Coreia do Sul!

fomos aguentando uma guerra que nunca seria ganha militarmente - isso é discutível: a guerra estava ganha em Angola, empatada em Moçambique e perdida na Guiné. Nada mau, para um pequeno e pobre país da periferia da Europa, a lutar em três frentes a milhares de quilómetros de casa; o que era de todo impossível seria ganhar politicamente as guerras;

Podia ser doutro modo? Pelo que tenho lido, acredito que sim. Bastava que - não podia, e não "bastava que". Para que a descolonização (a qual, de resto, como muito bem diz, ainda não acabou) seria preciso toda a série de condições que enumera (e já são muitas e nada fáceis), e mais uma, sine qua non: um exército em estado de combater. Ora o nosso, por motivos óbvios, não estava;

O tema da descolonização interessa-me, evidentemente - mas não tanto quanto seria de esperar. Estou muito mais interessado com o futuro. "Que fazer?" parece-me uma questão mais importante, mais pertinente, mais adequada do que "Que deveríamos (ou poderíamos) ter feito?" A resposta é: "não sei". Penso, contudo, que o primeiro passo deve ser olhar para a situação em Africa da perspectiva correcta - a saber, que o problema é político e não económico. Por isso sou contra as soluções de ordem económica, do tipo "um dólar por dia salva 250 crianças de uma morte certa" (talvez seja verdade, mas chega a adolescência e vão para soldados?; ou assim que deixam de ser crianças e ter "direito" a protecção morrem de fome?). Claro que é difícil explicar a um zimbabweano hoje que não lhe dou dinheiro porque acho que não resolve o problema, mas isso é outra história. E por isso duvido muito das ONGs, com a sua tendência para colocar as culpas todas na "colonização" - ou nas colonizações, se preferir: apesar de não ver grande diferença entre elas, ou pelo menos entre os seus resultados.

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